21/03/2022 às 11h24min - Atualizada em 21/03/2022 às 11h03min

Você sabe onde eu estou, mas não por onde eu passei

Entender que já chegamos no que buscávamos não é se acomodar, não deixar de ter ambição, é entender que sonhos precisam ser realizados

Jacson Carvalho

Jacson Carvalho

Jacson é Jornalista formado pela Faculdade Luterana Bom Jesus Ielusc. Foi repórter policial, apresentador de TV, Editor Chefe do NN em Toronto-Canada.

Jacson Carvalho
É comum admirarmos alguém, um projeto bem-sucedido, compartilhar nas redes uma fala, uma foto, um vídeo. Temos uma carência de referencias, poucas pessoas conseguem perceber o movimento da terra quando o sol está no auge do dia, só percebem quando ele se põe na montanha, assim tem a percepção do tempo, entre o clarão e o sucumbir na noite.
            Tudo é preciso se referenciar, é preciso validar, pouco risco, pouco movimento próprio. Nem tudo na vida está relacionado ao outro e sim a si.
            Quando estamos na eterna busca de encontrar em alguém o que não temos, esquecemos de nós, do que passamos, vivemos. Nossa vida já é um livro gigantesco de memórias. Focamos tanto em problemas que esquecemos das nossas conquistas e quando escrevo de conquistas não é o sobre dinheiro e sim experiências, saber lidar com um sentimento ou problema que já encostou na sua porta e você soube fechar, deixar no lado de fora. Outro dia eu passeava com meu pai pelas ruas e ele comentava sobre pessoas conhecidas que estavam bem de vida. Foi aí que eu questionei ele, pai, o que é ser bem de vida? Na simples forma de pensar herdada de outros respondeu que era alguém que tinha uma boa casa, um carro, um bom emprego.
            Logo fiz ele refletir sobre o que é na verdade ser bem de vida. Fiz a comparação de pessoas milionárias que não são felizes, porque possuem apenas uma casa e não um lar. Se ter muito dinheiro trouxesse felicidade às pessoas ricas não tirariam a própria vida, e são nessas classes sociais que mais acontecem.
            Quando sabemos a hora que já conseguimos o que queríamos? Será que já não atingimos nosso objetivo de vida? Afinal qual é na verdade nosso objetivo? Existem dois perfis de pessoas, os que a felicidade sempre estará no futuro e outras que sempre estiveram no passado.
            Quando eu tiver tantos anos eu vou ter a casa dos sonhos, o carro do ano, vou me casar, vou ter filhos, vou ser feliz.
            Ou, antigamente que era bom, a gente tinha segurança, a gente ganhava dinheiro, naquele tempo eu pagava minhas contas e sobrava. Eu era feliz porque eu tinha tal pessoa, porque meus filhos eram pequenos, porque aquele emprego eu era feliz.
            Quanta dificuldade de entender o presente, viver o momento, perceber que estamos no lugar certo, a hora certa do agora. Os temperamentos também contribuem para esses encontros. Alguns rápidos de mais, ansiosos de mais, não suavizam o agora, forçam portas, manipulam seu próprio entender do que é o hoje. Outros demoram de mais, sufocam de mais o que poderia ser a felicidade por desconfiar de mais, de não arriscar um pouco.
            Em primeiro lugar existe uma dádiva do hoje, do agora que deveria ser agradecida, referenciada que é o acordar. Sim eu acordei hoje, o que eu faço com esta informação? É o start da minha felicidade, como administrar meu hoje, quais percepções eu devo ter. Ter o discernimento que já chegou meu objetivo é fundamental.  
            Entender que já chegamos no que buscávamos não é se acomodar, não deixar de ter ambição, é entender que sonhos precisam ser realizados um dia. Quando eu era criança meu sonho era ter um Super Nintendo, como gostaria de ter um, meus pais jamais comprariam. Depois dos 30 anos eu fui comprar meu primeiro Nintendo, sim eu poderia ter um vídeo game atualizado, mas não, não se tratava de qual modelo e sim realizar o sonho. Depois dos 40 fui comprar meu primeiro saxofone, mas para que comprar este instrumento agora, vai tocar em algum lugar? Ele é caro, para que isso, sim para realizar um sonho.
            Realizar nossos sonhos é fundamental, porque não realizarmos os mais simples que sejam é o mesmo que concorrer sempre a sorteios que nunca pagam o prêmio, você deixa de acreditar que eles podem ser realizados.
            Certo dia fui visitar um empresário na  minha cidade, a minha simplicidade combinada com a dele nos fez ter uma amizade, era apenas uma visita de apresentação de um plano de mídia, logo estávamos conversando sobre a vida. Depois de ver o barco dele, os galpões de depósito dele falei, “você está bem em homem’. Ele me olhou nos olhos e me disse, você sabe aonde eu estou, mas não por onde eu passei.      
            Doravante comecei a lembrar dos caminhos que passamos na vida para chegar onde estamos, e pior, nós mesmos esquecemos dos caminhos que passamos, como vamos ter o reconhecimento dos outros? As redes sociais, os novos amigos sabem onde você está e não por quais caminhos você trilhou. É no caminho que aprendemos, é nele que entendemos que a dor ensina a gemer.
            Meus amigos antigos sabem aonde eu passei, por isso valorize estes, eles te reconhecem não pela sua fala, não pelo que você posta e sim porque sabem as pedras do caminho que você encontrou.
            Reconhecer que você já chegou no seu objetivo não significa que você vai parar com tudo, que vai se aposentar e sim que a meta  traçada foi alcançada, que agora você pode criar outras, buscar outros objetivos. Eu brincalhão que sou, outro dia fui na padaria e queria comprar sonhos, a atendente me perguntou, qual sonho você quer moço? Os grandes ou pequenos, eu respondi, prefiro os pequenos porque são fáceis de realizar. É uma brincadeira também repleta de reflexões, tem pessoas que querem realizar sonhos muitas vezes inalcançáveis pelo tempo de vida que nos resta, fazer conta e entender o tempo médio de vida útil é importante também para não se frustrar. Quanto tempo de vida eu tenho? Se nada mudar a rotina natural da vida qual tempo eu tenho para realizar meus sonhos? Protelar o hoje, deixar de ser feliz hoje é empurrar sua felicidade para o incerto. Quando deixamos para amanhã jogamos para o universo nossa chance real de ser feliz hoje.
            Fúteis, inúteis aos que se apegam aos bens materiais, que transformam o hoje na exposição deplorável do não ter quando expõem o que não lhe pertencem. Tudo que não carregamos na morte não nos pertence.
            A nossa vida é feita de fases, e as fases são conjuntos de momentos e estes momentos são vividos no agora. O conjunto de fases é aonde se encontra nosso destino.
           
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